quarta-feira, 27 de maio de 2009

Dinâmica frustrante

Aposentei-me dia 13 de março de 2003.

Sempre fiz o horário da escola então, comêço de março, eu o terminei e voltei às salas de aula.

No dia que retornei já havia dado aulas em 4 quintas séries e iria ter a última numa sétima série e ainda não os conhecia.

Pensei: primeiro contato vou dar uma dinâmica de bate papo entre eles, para desenvolver critérios de escolha.

Dei uma dinâmica dizendo que teria um terremoto e só se salvariam os que encontrassem abrigo seguro. Que tinha um abrigo onde caberiam sòmente 5 pessoas e estavam em dez.

Aí citei personagens diferentes, como por exemplo, um padre com 76 anos, uma criança doente de 12 anos, um poeta que declamava o tempo todo, um psicólogo, um médico, um homossexual, um deficiente visual,um gago e um casal de advogados que se amavam e pediam que não os separassem, ou seja, se fossem escolhidos, entrariam os dois, senão que deixassem os dois para fora do abrigo. A condição da dinâmica era esse casal, o resto poderia ser escolhido aleatòriamente com discussões entre o grupo de alunos.

Dividi a classe em 10 grupos, expliquei o fundamental, porque sempre se faz necessário pela falta de interpretação da leitura dos alunos desde aquele tempo.

Achando que eles iriam amar discutir batendo papo e analisando cada personagem, fiquei na minha mesa e faltando 20 minutos para a aula terminar, pedi que cada grupo expusesse o que tinham resolvido.

Qual não foi meu espanto quando ouvi que sete grupos NÃO CONSEGUIRAM fazer e três fizeram mas separaram o casal de advogados.

Pensei: "sangue de Jesus tem poder". Acabei a aula e perguntei para a secretária da escola:

- Quanto tempo você acha que sai a minha aposentadoria?
- Uma semana ou dez dias no máximo, ela respondeu.
- NÃO VENHO MAIS, EU NÃO SOU O JAPONÊS DE HIROSHIMA!

Não apareci nunca mais na escola. Foi assim que eu me aposentei.

Um comentário:

Marcos Pessoa disse...

Imagino como foi difícil você concluir isso, dizer isso, fazer isso. Você que sempre demostrou amar o que faz(ia). Mas concordo com você, com sua atitude.

Acho que a tarefa de despertar essas pessoas desse marasmo que vivem (será que realmennte precisam despertar?) é para outros que não nós.

Acredito que essa nova geração de pessoas têm outras necessidades para as quais não temos respostas. Temos saídas para quem quer saídas e estas são sempre baseadas na solidariedade, na amabilidade, na civilização dos instintos predatórios...

Ah... quando for a Areia Preta não use sandalias havaianas, fique descalça, confie no chão, deixe seus pés sentirem a grama fofa, a terra umida e fértil. Ali não há nada que machuque que não sejam espinhos e espinhos nada mais são que folhas de certas árvores. Não há nada que machuque que não sejam algumas formigas e formigas são operárias incansáveis da fertilidade. Naquele chão não há nada que justifique andar calçado, aliás, é uma ofensa à terra daquele lugar.

beijos