domingo, 7 de junho de 2009

PACARAIO

Quando decidiram mudar na educação o conceito de aprendizagem para números de aprovados, sentimos na pele o estrago que estava acontecendo.

Nos meus 29 anos na sala de aula, sempre no primeiro dia do ano pedia uma redação para os alunos da 5ª série, com temas para que pudesse perceber como era o vocabulário de cada um e o conteúdo, para depois saber como encaminhar minha matéria
paralelamente as falhas que tinha observado neles.

No ano seguinte à aprovação em massa chegou às nossas mãos uma redação cujo tema era "A brincadeira que mais gosto".

Um aluno da 5ª série e que devia ter SIDO PASSADO para a série seguinte, escreveu:

"Eu souto pipa de dia, di tarde e di noite, só não souto quando to na escola. Eu souto pipa PACARAIO".

Uma professora lendo a redação, disse:
- Não consigo entender o fim da frase dele.

Aí eu falei:
- Leia alto porque aí você usa dois sentidos e nós te ajudamos.

Quando ela leu, caímos na risada e eu disse:
- Ele quis dizer que solta pipa para caralho.O duro que você tem que corrigir aí o "pacaraio", colocar o jeito certo e chamar ele num canto e pedir para ele não usar mais esse termo.

E foi isso e para pior, o que fizeram com os alunos e com a educação.

Vamos aguardar os pacaraios que estão por aí. Eles eu garanto que existem muito mais que a gente pensa.

É lastimável!

6 comentários:

Marcos Pessoa disse...

Acho eu, Márcia, que o aluno que escreveu isso está usando a línguagem escrita para dizer o que ele faz e pensa, nas circunstãncias reais que vive. Para que ele fale e escreva a língua chamada de culta - essa que nós usamos e queremos que ele também use - é preciso que ele participe deste outro mundo, que saia do dele e venha para o nosso. Não sei se me entende...

Assim, não adianta olharmos com preconceito o texto dele, mas abrir portas para que ele precise mudar a maneira como escreve...

Será que consegui dizer o que penso?

Bjs

Márcia Morales disse...

Marcos,
vou mais além, precisamos ensiná-los a priorizar e aprimorar vocabulários pertinentes a um mundo em que através das palavras, ele ganhe status não de riqueza, mas de valores a quem merecido seja.Os mundos parecem ser diferentes, mas quando você entende o que deve fazer pra que eles fiquem iguais, você cresce, porque entendeu que é somente com conhecimentos que você se iguala.
Isso era desenvolvido em escola e agora além da escola não dar esse suporte ainda tem a escrita deplorável da internet.
Infelizmente essa está sendo nossa realidade.
A pessoa que sabe se apresentar falando corretamente é muito mais valorizada do que aquela "vulgar".
Isso tentei passar aos meus alunos, quando antes de explicar a matéria, líamos um parágrafo e primeiro o analisávamos para entendimento de um a um.
Bjs

Márcia Morales disse...

Marcos,
porque eu, vc e a Kika hoje estamos no mesmo mundo?
Nós somos tão diferentes, vcs viajados, eu presa numa sala de aula onde ninguém cobrava e nem sabia o que eu fazia.
Fomos parar no mesmo mundo, porque tivemos humildade em aprender um com o outro.
Vocês me ensinaram em ser uma pessoa melhor para eu mesma,para os meus alunos, para minhas filhas e me ajudaram a ampliar o meu mundo.
Eu tenho a impressão que ensinei a vocês que o lindo e profundo encontra-se na simplicidade, mostrando o que uma simples professora pode fazer sozinha.
Confesso que estou escrevendo emocionada.
Bjs

Anônimo disse...

O grande fracasso está na educação de berço.
Conheço uma tal de Xuxa Meneguel que já incorporou no seu vocabulário a palavra "caracas" e perde assim oportunidade de aprimorar o dialeto nas nossas crianças. Mas eu penso que se esse aluno caisse em minhas mãos,com certeza iria tentar fazê-lo melhor.

K disse...

Sem dúvida, ele só fala sério. É assim mesmo. Mas to aqui tratando de sacar os dois lados, do aluno e do professor. Não é mole não.
Quanto ao fato de sermos "diferentes", não vejo nada disso. Só as circunstâncias foram um pouquinho diversas, mas sem dúvida, só complementares. Não daria para ter feito nada com vocês professores, como e no ritmo que fizemos, se não tivesse havido a visão dos complementos. Esse foi o maior e melhor dos exercícios. Mas acontece que vc, Márcia, estava mais aberta e disposta - muito mais que muitos deles juntos. Daí deu no que deu e estamos aí, estaremos sempre. Não tem um sem o outro. Eu fico felicíssima em te ter ao lado e ver teu "crescimento" desde aquele primeiro dia tentando escapar nas escadarias até este segundo, é o que me deu a maior das alegrias. Cada dia é visível teu esforço. E isto não tem preço.
T'amo muitão e agradeço sempre.

K. disse...

Vixe, agora que reparei em outro troço aqui. A senhora precisa reconfigurar, urgentemente, esse troço de estrelinhas ao final de cada post pq ele está nos remetendo a sites FORA do teu blog e à coisas nada a ver. Olha aí o que aparece no campo "nossos leitores gostaram igualmente de"...: uma opção é para um texto teu, e a outra para o além. Conserta, please mammy's. Se quiser ajuda eu dou.
Bjim.