terça-feira, 8 de setembro de 2009

Resiliência é sempre dar a volta por cima

No livro de Frederic Flach, "A arte de ser flexível -Resiliência", tem um parágrafo que ele diz "existem certas características na personalidade resiliente; criatividade; capacidade de suportar a dor; percepção de si próprio e das coisas que estamos passando em determinada fase de nossas vidas; independência de espírito; auto-estima quando
essa diminuiu ou foi temporariamente perdida; capacidade de aprender; habilidade de fazer e manter amizades; liberdade na dependência dos outros, com o talento especial de determinar os limites da profundidade da nossa dependência; uma perspectiva de vida que oferece uma filosofia vital, evolutiva, através da qual podemos interpretar todas as nossas experiências e extrair alguma medida de
significado pessoal".

Depois de ler esse parágrafo fiquei pensando se eu tenho a capacidade de ser
resiliente. Aí lembrei uns pedaços da minha vida e vou contar a vocês.

Desquitei a primeira vez grávida. Enquanto todos diziam, coitada da Márcia, eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo. "Liberdade" total, coloquei entre aspas porque nunca somos livres totalmente. Eu dizia que era uma "Braboleta sorta no ar livrinha pro mundo e não mais um pássaro preto com zóio furado pra cantá mió".

Tive minha segunda filha e vim enfrentar São Paulo. Achei que as fraldas demoravam demais para secar, então eis-me tomada daquele súbito peculiar, fui nas casas Bahia e comprei uma máquina de lavar em 36 meses.

Tinha pago duas prestações quando um belo dia queimou o motor da geladeira. Chamei o técnico e ele disse que ficaria em $ 12,00, eu ganhava $ 48,00, então ofereci pra ele por $ 7,00 e fui de novo para as Casas Bahia e comprei outra em 36 meses. Os $ 7,00???? Eu comprei presente pra mim e para minhas filhas.

Então um mês eu pagava as duas prestações, outro mês não pagava nenhuma e no outro uma. Até que um dia recebi um telefonema do cobrador da loja:
Ele disse:
- Dona Márcia, a senhora está com umas prestações atrasadas e fica chato.
- Você me conhece? Sabe de quem eu sou filha?
- Não.
- Então fica chato pra quem, se você não me conhece e não sabe de quem eu sou filha.

O diálogo continuou dessa forma e no fim o cobrador queria me encontrar, não sei por quê?

Um dia passando em frente à telefônica, no tempo que telefone era ouro, e eis-me de novo com o súbito, entrei e comprei um telefone. Não estava aberta venda para o meu bairro, então comprei
no endereço de uma amiga, sem ela saber. Com muita sorte uma semana e já estava o telefone instalado no apartamento da minha amiga. Fui lá com uma sacola e trouxe o telefone. Demorou meses pra instalarem no meu bairro e eu pagando do mesmo jeito das casas Bahia.

Eu sabia que só o perderia na terceira parcela em atraso, então quando ia vencer, eu pagava. Um mês não sobrou de jeito nenhum e já ia ser a terceira. Pensei, pensei, pensei e "pumba" achei a solução.

Naquele tempo você podia pagar as contas em qualquer banco com cheque. A minha conta era no Banespa, então fui ao Bradesco e paguei com cheque, mas coloquei a minha assinatura de casada. O cheque voltou não por falta de fundo, mas porque a assinatura não bateu. Sumi por 10 dias, então quando "apareci" era dia do pagamento e troquei o cheque. Foi fácil, fácil.

Eu não gosto de coisa enrolada, mas depois de tanta luta, acho certo que "a ocasião faz o ladrão", porque para sobreviver fiquei malandra, mas minhas filhas nunca deixei faltar nada, mas já as casas Bahia e a telefônica, "oh coithada".

Morava num apartamento de dois quartos e queria muito um com três quartos. Na véspera do Natal de 1985 estava passando por esse prédio onde moro, veio o súbito de novo, parei o carro e no dia seguinte, comprei. O outro? Não sabia o que fazer com ele, mas como eu apronto e Deus conserta, vendi em um mês e meio. Estava lògicamente com a prestação e o condomínio atrasado nesse mês.

Vocês também queriam demais né? Eu pagar em dia os dois? É ruim hein?

Depois casei de novo, vivi por 19 anos, acabou no susto o casamento em um sábado, foi triste, mas na terça-feira eu estava tomando chopp com a galeeeeeeera.

Faz anos que tenho minhas contas em dia, com cadastro nas Casas Bahia e hoje cuido da minha mãe, minhas filhas já são independentes, mas como não sou perfeita, quando minha mãe chora e diz que perdeu o marido, eu digo baixinho:

-Eu perdi dois.

É, são tantas emoções, outro dia volto com outras, mas eu acho que sou RESILIENTE.


2 comentários:

Unknown disse...

Percepção de si própria, eu diria que é sua maior qualidade como resiliente, pois escreve com muito discernimento suas experiências, e muito humor, diga-se de passagem...
Parabéns mais uma vez pela criatividade.

K. disse...

Tá vendo, Mammy's? Olha aí de novo eu achando que tb sou resiliente. Vc acha cada coisa que só vc mesmo. Adoro!
Já te disse que t'amo hoje?
T'amo muito.
Bj bj bj...