sábado, 21 de fevereiro de 2009

Porque aprendi a pintar a vida (1º texto do meu livro)

Existe uma teoria chinesa provando que tudo que se aprende até os 7 anos de idade, fica pela vida toda.

Eu acho que então foi isso que aconteceu comigo.

Até os 7 anos de idade, morava conosco minha avó paterna. Ela era uma gracinha de vovó. Aquelas vózinhas que te pega no colo, ri chacoalhando você com a barriga, deixa você beliscar o braço mole, pega na sua mão e te leva passear e vai explicando aquelas coisas maravilhosas pelas quais ela passou e aprendeu.

Toda noite jogávamos baralho e na última partida, ela deixava eu ganhar, porque assim íamos dormir felizes, tanto ela que deixava como eu que "ganhava".

Aí foi que eu aprendi a deixar o outro feliz.

Ela dava comida para os gatos que apareciam em casa, então lògicamente, todo dia o número deles aumentavam. Quando ela se enchia, espanhola brava, colocava eles num saco e nós duas íamos largar os gatos na linha do trem, porque por lá tinham muitas casas pra eles poderem ficar.

Quando voltávamos qual não era nossa surpresa, porque eles tinham chegado antes da gente. Nós andávamos devagar, ela, uma senhora idosa e eu com uns 5 anos de idade.

Ela xingava tudo em espanhol, mas NÃO DEIXAVA de colocar água e comida pra eles, tudo de novo.

Aí que eu aprendi a resolver tudo, mesmo quando o resultado não for o esperado por nós.

Uma madrugada, pegou fogo numa casa de tintas na esquina de cima da nossa casa. Em frente dessa loja, tinha um posto de gasolina, e se esse fogo chegasse até lá, nossa casa poderia ser atingida. Nessa madrugada fui acordada por ela e que me falou que pegasse tudo que eu mais gostava, porque teríamos que ir todos para a rua. Fui de pijama e ficamos com todos os vizinhos em alerta até que se acabasse com o fogo.

Aí que eu aprendi que nem tudo é importante, mas que devemos sempre priorizar a nossa vida.

Quando ela faleceu, lembro-me até onde eu estava, sentada num banco com mais duas primas na casa da minha tia Filó e meu pai veio nos dar a notícia.

Senti um vazio muito grande, mas durante aqueles sete anos eu aprendi muito e o mais importante, ficou esse aprendizado pra sempre.

Aprendi com ela, a não desanimar, sempre ter bom humor, repartir sempre, plantar o presente pra colher no futuro, elogiar sempre, deixar o outro feliz, confiar sempre na gente, amar pra ser amado e principalmente saber ser humilde,mas nunca deixar de nos amar incondicionalmente.

Foi assim que aprendi a pintar a vida!

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal isso. Deu saudade espetacular da minha, com quem vivi décadas e décadas e décadas... As boas avós - assim como pessoas boas de fato e de direito - NUNCA deveriam ir embora definitivamente. Nunca.
Belo texto pra começar o livro, Mammy's. Vc aprendeu direitinho com ela, deveras. Eu te agradeço.
E como vc mesma disse agorinha, minha obsessão precisa dar uma volta no texto. Mas vou esperar vc permitir, ok? Aquilo que combinamos, lembra?
- To rindo aqui, imaginando tua cara.
Já tá sambando aí, bela?
huhuhuhu...
Bjim.